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25- Eta povinho difícil

O ser humano é uma espécie que deu errado. Muito difícil de entender e lidar. Acho que a receita de sua criação não foi seguida à risca, pena que o design não observou. Este erro inicial permitiu que a criatura saísse do controle do criador, passando a se achar acima do Divino. Mas cadê o Criador? Não fez nada? Porque não desfez a sua obra e começou tudo de novo? Já sei! Deus tem seus motivos! Nós não podemos questionar.


Ao contrário do que penso e amplamente discuti neste blog, alguns religiosos acham que Deus fez tudo certo. Criou o Universo, o nosso mundo, todos os seres, um homem e uma mulher em um jardim que tinha tudo. Entretanto, todos concordam que o homem, como era de se prever, fez merda! E botaram a culpa na serpente. Deus ficou muito triste. A desculpa sempre é a mesma, o livre arbítrio.


Deus, não se deu por derrotado, embora sua, a criatura, a única à sua imagem, tenha se mostrado com defeitos, tentou acertar. Tentou por aproximadamente dezesseis séculos e, a cada dia, o seu povo tornava-se pior, até que o bondoso Deus reconheceu seu erro inicial e, para facilitar a limpeza do ambiente, mandou o dilúvio para afogar todas as criaturas, salvos Noé, 7 pessoas de sua família e uma bicharada só.


Ufa! Agora posso reiniciar a vida na terra, deve ter pensado Deus. Começou diferente, com 7 pessoas e um monte de bichos. Fico imaginando, depois de 1 ano presos na arca, sem alimentos saudáveis e água potável, como deveria ser o olhar dessas pessoas para a galinha: –Vem cá, canja! Não é brincadeira, porque Deus disse após o dilúvio: “Tudo quanto se move e vive vos servirá de mantimento” (Gênesis 9:3). Vocês acham que deu certo o reinício? Não!


O livre arbítrio foi permitido e as besteiras feitas pelo homem continuaram. Que povinho difícil, Deus deve ter pensado. Deus errou de novo. Será que o erro estava no DNA de Noé? Chegaram a construir uma torre para chegar aqui em casa, desabafa Deus. Na Torre de Babel, o Criador dispersou e espalhou sua criação. Não dava mais para ficarem juntos. Deus alterou o idioma dos povos para eles não se comunicarem, evitando, assim, novos problemas. Não usou outro dilúvio, provavelmente, para evitar a conta de água que estava muito alta. Não adiantou muito, surgiram os tradutores, os pecadores da língua.


Deus estava muito triste. Pensou: – Meu povo, não dá mais, acho melhor escolher algumas pessoas para eu me dedicar. Escolheu Abraão e seus descendentes. Mas que azar, logo os escolhidos foram capturados pelos egípcios e escravizados por quatro séculos. Porque Deus, com todos os seus poderes, permitiu? Para complicar, foi pelo caminho mais difícil, decidindo resgatá-los do Faraó e mandá-los à Palestina em um caminho que durou40 anos. Não podia Deus ser mais simples?


Deus falhou novamente. Deixou seu povo vagando no deserto por muito tempo até levá-los à Palestina, colocando-os sob governo dos Juízes. Não demorou muito e, mesmo com um Deus todo poderoso por trás, o seu povo foi, novamente, conquistado e levado em cativeiro pelos babilônios. Que sina! Se eu vivesse nesta época torceria para Deus não me escolher. Será que o Deus dos outros era mais forte? Enfim, eles retornaram e Deus experimentou a força dos profetas, mas o povo tornava-se cada vez pior. Nada de escolas, ciências, artes ou comércio.


Agora chega! Deve ter pensado Deus. Eu vou resolver isso de uma vez por todas. Então Deus enviou seu filho como a última chama de esperança e, como fazem os atuais espíritas, encarnou em um corpo humano e passou a viver com o povo que vinha tentando civilizar há milênios. Então este povo, os seus escolhidos, acusou este “Deus na forma de homem” de blasfêmia, o julgaram e o mataram com muita crueldade.


Cansei de tantas falhas! Gritou o Divino. Abandonou os judeus e passou o tempo assistindo o que acontecia no resto do mundo, como se tivesse uma televisão digital e, mudando de canal, observou que a novela era a mesma em todos os canais e em todas as épocas. Pessoas com livre arbítrio, decidindo o que fazer de suas vidas, se achando deuses e usando a sua palavra como arma de convencimento e doutrinação para determinados objetivos que se afastavam muito do provável interesse Divino. Eta povinho difícil!


Uma questão fica no ar: existe o livre arbítrio?

Edson Perrone

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